segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A princesinha e o sapinho (4)

A corrida como pretexto



Estava o sapinho numa das suas loucas correrias, propositadamente num local onde sabia que a princesinha ia passar, quando ouviu ao longe o roncar do motor de um carro. Sentiu que podia ser a princesinha com o seu “bólide”, mas manteve a passada firme naquela subida íngreme. O carro passou, lentamente e quase aos soluços por ter engrenada a mudança errada para a baixa velocidade a que seguia naquele declive.
Imagine-se! Até o carro da princesinha sentiu o coração apertado na presença do sapinho. Ambos continuaram o seu caminho. O sapinho correndo como as suas pernas já pouco elásticas permitem e o carro da princesinha obviamente mais rápido no seu motor que queima combustível de outro tipo.
Tendo em conta a abissal diferença de velocidade a princesinha e o seu carro rapidamente se afastaram serra acima. Curva, contra curva, outra e mais outra ainda, o sapinho ia vencendo aquela estrada que por momentos salientava ainda mais os seus declives. Descreve mais uma curva e na sua frente tem uma recta de quase meio quilómetro. Ao final dessa recta, na berma da estrada vislumbra um carro parado. A pouca luminosidade do fim de dia não lhe permite àquela distância perceber exactamente a cor e outras características da viatura que levem à sua identificação, mas uma esperança lhe assalta a mente e quase sem querer acaba por pensar em voz alta. O carro da princesinha? Será? Ai!!!
Corre mais rápido sapinho! Mais rápido! Antes que o carro retome a marcha. Cada vez mais próximo, o sapinho não tem certeza que seja o carro da princesinha. Não tem certeza, mas quer que seja!
A princesinha espera, aparentemente calma. Afinal vai ser a segunda vez que se vêem e já não há razão para sentir aquele impacto do primeiro encontro.
O sapinho chega, transpirado e cansado, escorrendo suor, mas mesmo assim a princesinha insiste em beijar-lhe a face. ( Não são destes, os beijos que quebram o encanto e trazem o príncipe de volta).
Ficam ali, o suor do sapinho seca, já tem frio mas nem o sente. Tal como ontem, a princesinha precisa voltar ao “castelo” da rainha mãe.
Partem, primeiro o sapinho e ela depois. Em andamento ainda lhe dirige palavras de carinho e de incentivo para o resto da corrida e depois desaparece na mesma estrada onde o sapinho ainda tem três quilómetros para percorrer. Como sempre, à noite, vão encontrar-se no país do faz de conta que para eles já não é faz de conta coisa nenhuma. Agora até já o virtual é real. Dificil é discernir se tudo é real ou se alguma coisa é sonho.
Sonha princesinha! Sonha sapinho! Sonhar faz bem!

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