quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A princesinha e o sapinho (2)



A transição para o mundo real

Estava o sapinho regressando do seu árduo trabalho diário, quando do outro mundo virtual das telecomunicações chegou uma mensagem onde uma palavra apenas, legendava uma fotografia de um lugar lindo, idílico e até propício a algum romantismo.
“Conheces!” Era esta a única mensgem escrita que acompanhava a fotografia.
Se conhecia! Fora o sapinho que ensinara à princesinha a forma de lá chegar, também ele na secreta esperança de um dia lá se poderem encontrar e quiçá trocarem o beijo que faria desaparecer o seu encantamento e voltar a ser príncipe de novo.
Correu o sapinho “esbaforido”, coração em sobressalto ao encontro da sua princesinha.
Ao longe vislumbrou entre os arbustos e as árvores frondosas do parque, alguém que lhe pareceu demasiado jovem para ser a princesinha que conhecia do mundo do faz de conta.Ali no mundo real, ela parecia numa primeira observação, bastante mais jovem do que lhe dissera ser.
Indeciso, o sapinho recuou triste por sentir frustradas as suas expectativas para aquele momento. Todavia, uma voz do interior chamou-o à realidade e disse-lhe que continuasse, que avançasse e desse mais uns saltinhos, pois um sapinho não deve andar para tràs sob pena de poder cair e fazer desmoronar sonhos que já duram há meses.
Então lembrou-se de utilizar uma estratégia que serviria apenas para confirmar se a princesinha estava ali ou não.
Servindo-se do seu equipamento de telecomunicações, chamou a princesinha e ela por gestos respondeu ao chamamento que o sapinho interrompeu. Repetiu o chamamento por mais três vezes e em todas elas a princesinha reagiu.
Não havia dúvidas! A princesinha estava ali! Era ela!
O coração do sapinho bateu mais forte, tão forte como bate quando efectua uma daquelas suas grandes correrias num outro país onde costuma viver e do qual gosta muito. O país das corridas!
Bateu forte o coração do sapinho e na sua testa rolaram suavemente duas gostas de suor. Até nem estava muito calor, mas o sapinho transpirou.
Naquele lugar, lindo, idílico e até propício a algum romantismo, a princesinha fotografava absorta de tudo que a rodeava para além da paisagem, mas também o seu coração apertava e batia acelerado. Não transpirava, mas em contraste com o seu corpo quente, as suas mãos gelavam. Gelavam pela emoção e algum nervosismo pois ela sentia que naquele local e a qualquer momento podia surgir o sapinho. No entanto, esforçava-se por manter um aspecto o mais natural possível. Não para esconder do sapinho a ansiedade que sentia naquele momento, mas mais para tentar enganar-se a si própria em relação a causas para as quais não tinha explicação.
É quase sempre assim. Se não conseguimos explicação para algo, damos a volta ao largo numa tentativa de omitir enganando mais a nós que propriamente aos outros.
Será que ele virá? Será que percebeu a mensagem? Que louca sou eu, ter vindo aqui!
Estes e outros pensamentos assolavam a cabeça da princesinha enquanto disparava várias vezes a sua câmara digital.
Muitos clics pode fazer uma máquina fotográfica gravando, para a posteridade, cenas do mundo real que muitas vezes esquecemos, mas que podemos sempre recordar em documento digitalizado ou em suporte de papel. Com outro simples clic podemos sempre apagar na câmara digital imagens que não desejamos manter.
Outros clics existem que nos dão uma felicidade imensa, mas esses são clics do coração, química, magia ou o que mais lhe queiramos chamar.
A princesinha fotografava e pensava no sapinho. O sapinho olhava hesitante sem que a princesinha soubesse que estava a ser observada..Num ímpeto, o sapinho soergueu-se nas suas "patinhas" e saltitou silenciosamente na direcção da princesinha. A distância já era curta mas ele continuava hesitante.

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